A compreensão integrada dos benefícios e dos possíveis efeitos colaterais da cannabis é fundamental para a construção de diálogos construtivos e a expansão da educação em torno desta planta, além de atitudes para garantir um tratamento eficiente e seguro.
É reconhecido, por exemplo, que a cannabis pode ser benéfica para pessoas que sofrem de condições diversas, como dores crônicas ou doenças degenerativas como Alzheimer e Parkinson, além de elevar a qualidade de vida de indivíduos saudáveis que enfrentam estresse e preocupações diárias.
Seus benefícios também se estendem a quadros psicológicos, como depressão e ansiedade, promovendo bem-estar. No entanto, é fundamental reconhecer os riscos potenciais associados ao seu consumo, afinal, sabemos que todo uso de medicação pode ser acompanhado por benefícios e desvantagens, principalmente quando acompanhado de desinformação e sem acompanhamento.
E quais podem ser os possíveis efeitos indesejados da cannabis em nosso organismo? Enquanto seu potencial terapêutico é indiscutível, as nuances de seus impactos exigem um olhar atento e informado. A seguir exploraremos esses possíveis efeitos e também dicas para mitigá-los.
Personalização do Uso da Cannabis
Os efeitos da cannabis são subjetivos e variam de indivíduo para indivíduo, tornando a autoavaliação extremamente necessária para o melhor aproveitamento do tratamento baseado em cannabis.
O efeito entourage, ou efeito comitiva, desempenha um papel fundamental na medicina canábica, baseando-se na ideia de que os componentes da planta, quando utilizados conjuntamente, produzem efeitos sinérgicos que intensificam ou alteram os benefícios terapêuticos individuais. A combinação desses compostos resulta em maior eficácia terapêutica do que o uso isolado de cada um, além de reduzir efeitos colaterais indesejados.
A personalização do tratamento com cannabis, portanto, torna-se fundamental, pois cada paciente pode ter uma resposta única aos diversos compostos. Compreender o efeito entourage permite aos médicos e pacientes ajustar as proporções destes compostos para atender às necessidades específicas de cada caso, escolhendo produtos, doses e composições que melhor se adaptam às condições médicas do paciente, maximizando benefícios e minimizando efeitos adversos.
Por exemplo, o CBD, quando administrado juntamente com o THC, na dose adequada para você, ajuda a mitigar os possíveis efeitos negativos que o THC pode causar e vice-versa.
Mas afinal, quais são os efeitos colaterais da Cannabis?
A cannabis, sendo uma substância natural, é frequentemente destacada por seus poucos efeitos colaterais, que são geralmente facilmente controláveis ou contornáveis, especialmente em comparação com muitos medicamentos alopáticos, que podem ter listas extensas de possíveis efeitos adversos.
Além disso, um princípio fundamental no uso da cannabis, assim como com qualquer substância, é que a chave para o seu efeito reside na dosagem adequada. Ajustar a dose corretamente pode maximizar os benefícios terapêuticos enquanto minimiza riscos e efeitos indesejados, tornando a cannabis uma alternativa personalizável e manejável para diversas condições de saúde.
Nesta pesquisa, a conclusão foi que eventos adversos sérios são raros, e que os efeitos adversos graves do CBD são incomuns, e geralmente relacionados ao uso concomitante com outros medicamentos.
Essa pesquisa concluiu que fadiga, diarreia e alterações no apetite/peso são os efeitos colaterais mais comumente relatados quando o paciente consome altas doses do CBD, especialmente em estudos focados no tratamento de epilepsia e distúrbios psicóticos.
Nesta outra, foi verificado que, em doses altas e uso crônico, o CBD pode influenciar o metabolismo hepático e as interações com outros medicamentos. Isso inclui a possibilidade de alterar a eficácia de outros tratamentos, como o aumento das enzimas hepáticas.
O THC ou tetrahidrocanabinol, por sua vez, pode apresentar efeitos adversos indesejados, como euforia, ansiedade e paranóia, quando usado em altas doses. No entanto, quando administrado na dose adequada, o THC ameniza estados ansiosos.
É importante mencionar que alguns pacientes são geneticamente predispostos a sentir ansiedade com o uso do THC, o que reforça a importância de, nesses casos, explorar cepas com maiores concentrações de CBD e menores de THC.
Os efeitos negativos do uso prolongado de altas concentrações de THC ainda são pouco conhecidos, mas acredita-se que possa haver uma saturação do sistema endocanabinoide (SEC), o que poderia diminuir a eficiência de seus receptores e aumentar o estresse e a ansiedade.
Portanto, se você se enxerga nesse grupo de pessoas que sente ansiedade após consumir cannabis, é essencial sempre buscar acompanhamento médico especializado para o tratamento e discutir com seu médico sobre a possibilidade de optar por um tratamento com maiores concentrações de CBD e menores concentrações de THC, ou sem THC.
Entre o alívio e risco, o caminho do meio, com o suporte necessário
De forma geral, os efeitos colaterais dos canabinoides podem variar e até o momento a literatura científica recente destaca alguns dos principais impactos adversos associados ao seu consumo.
Primeiramente, efeitos psicoativos, como mudanças de humor e, em casos menos frequentes, reações disfóricas podem acontecer. Os canabinoides também podem desencadear episódios psicóticos agudos e iniciar ou exacerbar psicoses em indivíduos predispostos geneticamente.
Além disso, também já foram documentados efeitos adversos dos canabinoides no sistema cardiovascular, como taquicardia e hipotensão.
Estudos indicam que o CBD geralmente é bem tolerado, com perfil de segurança relativamente bom quando comparado a outros medicamentos para condições similares, o que pode melhorar a adesão e a conformidade dos pacientes ao tratamento.
No entanto, seu uso não está isento de riscos, e os seus principais efeitos colaterais estão relacionados ao uso indevido do produto, sem orientação médica, ou em concentrações muito altas. Interações medicamentosas com outros medicamentos e contaminação por THC em produtos não regulamentados também podem gerar efeitos indesejados.
Por isso a importância de um acompanhamento médico especializado no tratamento com cannabis não pode ser subestimada. Médicos com conhecimento específico em canabinoides estão melhor equipados para ajustar dosagens, monitorar reações adversas e oferecer orientações seguras. Essa supervisão é crucial para minimizar riscos e maximizar seus benefícios terapêuticos, garantindo a segurança e eficiência do seu tratamento médico.
Navegando pelos riscos com ciência
Um olhar crítico e equilibrado é essencial para abordar a cannabis, pontua o neurocientista e professor Sidarta Ribeiro. Neste vídeo, ele fala da importância de um debate equilibrado acerca da cannabis, reconhecendo seus benefícios e possíveis riscos.
Com insights valiosos sobre os impactos que a cannabis pode ter em diferentes fases da vida e condições psicológicas, o professor destaca a importância de uma compreensão científica sólida para orientar o uso responsável da cannabis.
Segundo Sidarta, são estes os grupos de riscos da cannabis:
- Mulheres grávidas e amamentando: ainda que não haja estudos que demonstrem efeitos particularmente adversos do uso nessas fases, os endocanabinoides são essenciais para o desenvolvimento embrionário. Portanto, como recomenda Sidarta, evitar o uso é prudente, assim como se evita álcool e tabaco. Afinal, não temos a tecnologia para decodificar todos os genes e prever se a mãe corre riscos, nem podemos afirmar com certeza se o desenvolvimento do bebê pode ser afetado;
- Adolescentes representam o grupo mais suscetível aos efeitos colaterais, visto que antes dos 19 anos, as estruturas cerebrais ainda estão em formação, e o uso inadvertido de cannabis pode impactar negativamente a memória e a capacidade de tomar decisões. O consumo precoce pode levar à síndrome amotivacional, e aumentar o risco de ansiedade e depressão mais tarde. Além disso, a cannabis pode acentuar sentimentos de incerteza e letargia;
- Não é aconselhável que indivíduos com propensão, especialmente genética, à psicose ou esquizofrenia, consumam cannabis. Se o consumo ocorrer, é essencial que seja com baixas concentrações de THC e cuidado e acompanhamento. É importante considerar que outros fatores, como eventos traumáticos, também podem desencadear essas condições.
Consciência para reduzir os danos
Garantir a boa procedência do seu produto à base de cannabis é fundamental para evitar surpresas indesejadas no seu tratamento à base de cannabis. Além disso, uma supervisão médica especializada e individualizada pode ser determinante no sucesso ou não da sua jornada de bem-estar com a cannabis.
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