O CBD medicinal é cada vez mais prescrito legalmente para tratamentos médicos diversos em todo o mundo. Por isso, é totalmente compreensível que médicos e pacientes (até por se tratar de algo recente) preocupem-se com o seu potencial de dependência. Então, vamos aos fatos.
A dependência de uma droga é um transtorno adquirido caracterizado por uma motivação poderosa de utilizá-la mesmo conhecendo consequências negativas que possam existir. É importante não confundir dependência com o desejo natural de continuar tomando um medicamento que trata sintomas crônicos ou dolorosos (que retornam quando a droga é interrompida).
Abuso e dependência
Você já deve ter visto manchetes culpando certas drogas por seus extraordinários “poderes viciantes”, não é mesmo? Drogas, contudo, não são substâncias mágicas opressoras e, como sabemos, apenas uma pequena parcela de seus usuários se tornam viciados. Então, não podemos culpar apenas a droga pela dependência. Seria como culpar os alimentos pelo vício em comida e pelas compulsões alimentares, por exemplo.
Evidências nos dizem que, ao tratarmos casos clínicos de dependência, devemos olhar além das substâncias. Distúrbios psiquiátricos concomitantes (ansiedade, depressão e esquizofrenia) e fatores socioeconômicos (comunidades carentes com altos índices de desemprego ou subemprego) são, na realidade, responsáveis por uma parcela substancial desses comportamentos.
CBD medicinal e o risco de dependência
Um estudo recente, que comparou as principais substâncias lícitas e ilícitas, revelou que o potencial de dependência da cannabis é comparável ao da cafeína, e que apresenta, no geral, um perfil surpreendentemente seguro, com toxicidade muito menor do que substâncias amplamente utilizadas, como álcool, nicotina, opioides (morfina), barbitúricos (pentobarbital) e benzodiazepínicos (rohypnol).
Por tudo isso, para a OMS (Organização Mundial da Saúde), o canabidiol, também conhecido como CBD, não tem potencial de abuso.
Tratamentos à base de canabidiol
Em um ambiente médico, pacientes recebem legalmente tratamento à base de cannabis, com produtos padronizados, seguros e consistentes, com a orientação e o acompanhamento de um profissional especializado.
São cenários bem diferentes, não é mesmo?
Não é à toa que em todo o mundo o tratamento à base de Cannabis vem beneficiando pacientes que sofrem de condições que vão de dores crônicas, epilepsia e autismo até esclerose múltipla e câncer.
Fontes:
Schlag AK, Hindocha C, Zafar R, Nutt DJ, Curran HV. Medicamentos baseados em cannabis e dependência de cannabis: uma revisão crítica de questões e evidências. J Psicofarmacol. 2021: 269881120986393.
Gable, R. S. Acute toxicity of drugs versus regulatory status. in Drugs and Society: U.S. Public Policy, 149–162 (J. M. Fish, 2006).
Canabidiol (CBD). Relatório de pré-revisão. Comitê de especialistas sobre dependência de drogas. Organização Mundial da Saúde, 39ª Reunião, Genebra, 6-7 de novembro de 2017.
Morgan CJ, Freeman TP, Schafer GL, Curran HV. O canabidiol atenua os efeitos apetitivos do delta 9-tetra-hidrocanabinol em humanos fumando sua cannabis escolhida. Neuropsicofarmacologia. 2010; 35 (9): 1879-85.
Freeman TP, Hindocha C, Baio G, Shaban NDC, Thomas EM, Astbury D, et al. Canabidiol para o tratamento do distúrbio de uso de cannabis: um estudo bayesiano adaptável e duplo-cego, controlado por placebo, randomizado e adaptativo. Psiquiatria Lancet. 2020.