Dizer que a cannabis sativa tem uma história milenar não é nenhum exagero. A primeira referência à sua utilização terapêutica data de 2.700 a.C., tempos do Imperador chinês Shen-Nung, onde a planta era recomendada no tratamento da malária, dores reumáticas, além de ciclos menstruais irregulares e dolorosos.
De lá pra cá, seja como alimento, remédio, combustível, fibra ou fumo, diversas outras sociedades como a grega, a romana, a africana, a indiana e a árabe já se beneficiaram de suas propriedades cada vez mais estudadas em todo mundo.
A obra “De Matéria Médica”, por exemplo, escrita pelo médico Pedânio Dioscórides (considerado o fundador da farmacologia) trazia a cannabis como uma das substâncias naturais que podem aliviar dores de origem inflamatória.
Mas, então, o que houve? Porque a maconha e os tratamentos à base de Cannabis são tabu no Brasil?
Preconceito é a principal dificuldade para quem quer trabalhar com cannabis
Segundo um levantamento da Kaya Mind, startup brasileira especializada em dados e inteligência de mercado no segmento, o preconceito (34%) e a falta de informações (27%) são as maiores dificuldades percebidas pelas pessoas que trabalham ou querem trabalhar com cannabis no Brasil.
O estudo foi realizado na Medical Cannabis Fair 2022, contou com 1.022 entrevistados e tinha como objetivo entender o comportamento de consumo dos participantes do evento e analisar o mercado de cannabis no país.
Abuso e dependência
Você já deve ter visto jornais, revistas, sites e noticiários culpando certas drogas por casos clínicos de dependência, devido ao potencial viciante das substâncias que a compõem. Mas, então, porque todos os usuários não se tornam viciados?
Evidências apontam que ao tratarmos casos clínicos de dependência, devemos olhar além das substâncias. Distúrbios psiquiátricos concomitantes (como ansiedade, depressão e esquizofrenia) e fatores socioeconômicos (comunidades carentes com altos índices de desemprego ou subemprego) são, na realidade, responsáveis por uma parcela substancial desses comportamentos.
Ou seja, não podemos culpar apenas a droga pela dependência. Seria como culpar os alimentos pelo vício em comida e pelas compulsões alimentares, por exemplo.
Um estudo recente, que comparou as principais substâncias lícitas e ilícitas, revelou que o potencial de dependência da cannabis é comparável ao da cafeína, e que apresenta, no geral, um perfil surpreendentemente seguro, com toxicidade muito menor do que substâncias como álcool e nicotina.
O papel da informação
As propriedades terapêuticas dos canabinóides são cada vez mais reconhecidas em todo o mundo. Muitos países, inclusive o Brasil, já autorizaram tratamentos à base de Cannabis (Lei nº 13.269/2016).
Algumas das condições mais tratadas são: insônia e outros distúrbios do sono, epilepsia, sintomas relacionados ao câncer, ansiedade, artrite reumatoide, autismo, enxaquecas, Alzheimer, Parkinson, esclerose múltipla e muitas outras.
Estamos diante de uma enorme revolução na área terapêutica e por isso é importante uma divulgação ampla de que pesquisadores sérios de todo o mundo estão empenhados há décadas em estabelecer, definitivamente, a eficácia da substância.
Nesse sentido, não há como retroceder. O papel da informação é absoluto e se constitui na principal ferramenta para esclarecer a sociedade de que estamos diante de uma nova realidade. A maconha e seus canabinóides são uma das melhores terapias complementares do século.
Fontes:
https://medicinasa.com.br/tag/kaya-mind/
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0104-12822020000100011